BRS: cinco falácias do sistema adotado pela prefeitura em algumas vias do Rio |
*Eliomar Coelho - 26/04/2012 |
O Bus Rapid System, nome pomposo para as boas e velhas faixas seletivas nas
nossas vias urbanas, tem sido muito louvado na mídia e na propaganda oficial da
prefeitura, que é veiculada pela entidade representativa dos empresários de
ônibus, a Fetranspor. O que é do agrado da Fetranspor não pode ser do agrado do
usuário. Senão, vejamos:
1. Mais comodidade aos usuários – Em todos os corredores onde o BRS já foi
implantado, houve redução do número de pontos por linha. Isso significa que, se
antes você andava alguns poucos metros para pegar sua condução, essa distância
pode ter até dobrado por causa dessa “reorganização”. Andar mais, por mais tempo
é cômodo para os usuários de transporte? Só falta dizer que é bom para a saúde!
Além do mais, com a diminuição no número de pontos por linha, a quantidade de
passageiros por ponto de ônibus, principalmente nos horários de pico, chegou a
dobrar. Some-se a isso a redução da frota em diversas linhas e vemos um
verdadeiro caos na hora do trabalhador voltar pra casa. Pontos lotados, ônibus
superdisputados e a “lei do mais forte” acaba prevalecendo. Isso é
comodidade?
2. Aumenta a eficiência do sistema – É claro que com linhas mais “enxutas”,
parando menos, com menos carros rodando, fica mais fácil para a empresa
coordenar suas operações e regular os horários dos ônibus. Mas a quem interessa
essa eficiência? Se ela redunda nos problemas já mencionados e vários outros,
quem tem a comemorar com esse sistema?
3. Melhora a fluidez do tráfego – Na Zona Sul, há quem diga que o BRS
salvou o tráfego local, melhorando a fluidez e diminuindo o tempo de travessia
dos carros pelos principais corredores. Mas veja só: se esta área da cidade já
registrava excesso de ônibus em circulação, a simples “racionalização” das
linhas já seria suficiente para isso. Essa racionalização ganha o seu conteúdo
de marketing com a logomarca do BRS. Já no Centro da Cidade, que a demanda é
muito maior e a rede viária não é tão retilínea como a da Zona Sul, os gargalos
viraram um verdadeiro pesadelo tanto para pedestres, quanto para motoristas e
passageiros do sistema de transporte.
4. Diminui o tempo de viagem – Os dados apresentados foram mensurados pelos
próprios operadores. Ainda que consideremos dignos de confiança, esse dados se
referem ao tempo de viagem dos veículos; não se referem ao tempo médio de viagem
dos passageiros. O que isso significa? O tempo de locomoção até o ponto de
ônibus aumentou, o tempo de espera no ponto aumentou, os congestionamentos na
maior parte das vias estruturais da cidade aumentou. Então como pode o tempo
médio de viagem ter diminuído? Esse dado só pode estar relacionado ao tempo
médio de viagem dos veículos, o que está longe de ser considerado um parâmetro
justo de medida do conforto para os passageiros!
5. Barateia a tarifa – Essa, de tão falaciosa, parou até de ser usada pelo
discurso oficial. Além de termos um dos ônibus mais caros do Brasil, estamos
pagando diversos subsídios para os mesmos empresários de sempre continuarem
prestando os mesmos péssimos serviços de sempre. Primeiro, a prefeitura fez
aprovar na Câmara Municipal uma redução de impostos para as empresas que
significou milhões de reais a menos nos seus custos, ao mesmo tempo em que
concedeu um aumento de mais de 10% na tarifa, em uma só tacada. Depois, junto
com a lei da meia passagem para estudantes universitários, a prefeitura aprovou
um subsídio direto, dinheiro público que será repassado aos empresários como
forma de “compensar” pelas meias passagens.
Ou seja, aos empresários, tudo; para a população, o BRS.
*Eliomar Coelho é vereador pelo PSOL no Rio de Janeiro
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"Ser marxista é, antes de mais nada, ser anticapitalista, ou seja, lutar pela construção de uma sociedade sem classes, que suprima a exploração do homem pelo homem e a propriedade privada dos grandes meios de produção, criando condições para que as relações entre os homens sejam fundadas na solidariedade e não no egoísmo do mercado. Claro, ser marxista não é repetir acriticamente tudo o que Marx disse. Marx morreu há cerca de 120 anos e muita coisa ocorreu desde então. Mas, sem o método que ele nos legou, é impossível compreender o que ocorre no mundo. Ele nos disse que o capital estava criando um mercado mundial, fonte de crises e iniqüidades, e nunca isso foi tão verdadeiro quanto no capitalismo globalizado de hoje. Falou também em fetichismo da mercadoria, na conversão do mercado num ente fantasmagórico que oculta as relações humanas, e nunca isso se manifestou tão intensamente quanto em nossos dias, quando lemos na imprensa barbaridades do tipo 'o mercado ficou nervoso'." (Carlos Nelson Coutinho)
terça-feira, 1 de maio de 2012
BRS: cinco falácias do sistema adotado pela prefeitura em algumas vias do Rio
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