"Ser marxista é, antes de mais nada, ser anticapitalista, ou seja, lutar pela construção de uma sociedade sem classes, que suprima a exploração do homem pelo homem e a propriedade privada dos grandes meios de produção, criando condições para que as relações entre os homens sejam fundadas na solidariedade e não no egoísmo do mercado. Claro, ser marxista não é repetir acriticamente tudo o que Marx disse. Marx morreu há cerca de 120 anos e muita coisa ocorreu desde então. Mas, sem o método que ele nos legou, é impossível compreender o que ocorre no mundo. Ele nos disse que o capital estava criando um mercado mundial, fonte de crises e iniqüidades, e nunca isso foi tão verdadeiro quanto no capitalismo globalizado de hoje. Falou também em fetichismo da mercadoria, na conversão do mercado num ente fantasmagórico que oculta as relações humanas, e nunca isso se manifestou tão intensamente quanto em nossos dias, quando lemos na imprensa barbaridades do tipo 'o mercado ficou nervoso'." (Carlos Nelson Coutinho)

domingo, 22 de abril de 2012

Socialismo no século XXI

Graças as lutas vitoriosas dos movimentos operários e populares, vem ocorrendo desde o final do século XIX, a chamada "socialização da política", com a conquista do sufrágio universal, legalização dos sindicatos e dos partidos operários, reconhecimento do direito de greve, redução da jornada de trabalho para 8 horas diárias, etc. Isso possibilitou a "democratização" do capitalismo, mudando os paradigmas da luta de classes. A esquerda não pode mais defender a ditadura do proletariado, uma vez que tornou-se obsoleto tal conceito. A esquerda precisa assumir a defesa da democracia como valor universal.

A revolução socialista no século XXI é processual, fundamentada na radicalidade democrática, ou seja, é um processo de reformas revolucionárias, pois vão contra os interesses da ordem capitalista, mas sem contudo partir para ações violentas, pois deve sempre utilizar os espaços abertos pelas vitórias democráticas do proletariado, agindo dentro dos limites da democracia, radicalizando esses limites. Como afirma o cientista político Carlos Nelson Coutinho:

"Por um lado, a progressiva passagem da exploração do trabalho através da mais-valia absoluta (da redução do salário e do aumento da jornada de trabalho) para a exploração através da mais-valia relativa (do aumento da produtividade) - uma passagem amplamente teorizada por Marx no Livro 1 de O Capital, publicado em 1867 - alterou as condições em que se trava a luta de classes: ela não mais ocorre num quadro em que a acumulação do capital leva necessariamente ao empobrecimento absoluto do trabalhador, mas torna possível um aumento simultâneo de salários e lucros; com isso, a luta de classes pode assumir formas mais institucionalizadas, que não podem ser equiparadas a uma "guerra civil". E, por outro lado, em estreita correlação com essa alteração infra-estrutural, ocorreu uma crescente "socialização da política" (conquista do sufrágio universal, criação de sindicatos e partidos operários de massa), a qual forçou o Estado capitalista a se abrir para outros interesses que não os da classe dominante, com o que - sem deixar de ser um Estado de classe - ele não mais pode ser definido como um mero "comitê executivo" da burguesia. Ao lado da coerção, gestaram-se também mecanismos de tipo consensual. Tudo isso, finalmente, motivou uma nova concepção da revolução socialista: essa pode agora ser imaginada não mais sob a forma de uma "explosão violenta" concentrada num curto lapso de tempo, como ainda o faz o Manifesto, mas sim de um movimento processual, de longa duração, que opera nos espaços progressivamente abertos pelas instituições liberal-democráticas (as quais, de resto, resultam em grande parte das lutas dos trabalhadores)."

(Carlos Nelson Coutinho; in Grandezas e Limites do Manifesto Comunista) 


A esquerda precisa romper com a herança autoritária do bolchevismo, resgatando o melhor do pensamento marxista, ao mesmo tempo em que rompendo com o dogmatismo, deve retomar a luta por um socialismo radicalmente democrático e autossustentável.

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